Uerj oferece programa de alfabetização e letramento para idosos

O Proalfa (Programa de Alfabetização, Documentação e Informação) nasceu há 20 anos graças à iniciativa de uma equipe psicopedagógica envolvida com as questões do fracasso escolar e, atualmente, abrange o ensino de Língua Portuguesa e Matemática.

Na última segunda-feira (3), a apresentação inaugural do 2º semestre de 2016 do Proalfa contou com a participação de cerca de vinte alunos, cujas idades variam entre 60 e 90 anos. O projeto dá continuidade ao seu trabalho com o tema “Eu e os lugares que vivem em mim”, incentivando o compromisso de pessoas da terceira idade com o aprimoramento da escrita, da leitura e dos conhecimentos matemáticos. Atualmente, são três turmas.  As aulas acontecem às terças, quartas e quintas-feiras, das 14h às 17h.

“Eu estou aqui já faz dois anos e estou muito satisfeito, só saio se me mandarem embora. (…) Isso é vida, na idade que eu já tenho. A gente não pode é ficar parado, acomodado. O bom da vida é viver e acompanhar a vida conforme ela é (…). Fiz amigos e considero muito os professores, os professores consideram muito a gente. Isso aqui foi um caminho que abriram para a gente entrar em um espaço que antes não tinha. E merece consideração, merece elogio, merece tudo”, opina o aluno Jaime Francisco da Silva, de 75 anos.

Ana Helena Moussatché, antiga professora do instituto de Psicologia da Uerj, foi uma das fundadoras do Proalfa e agora, mesmo aposentada, continua dedicada ao desenvolvimento do trabalho. Organizando tudo ao lado de Marlene Dias, Regina Brasil e Josiane Santos, ela conta que se trata de um programa de extensão – relacionado àquilo que a universidade pode oferecer a toda a comunidade – e que envolve tanto a documentação (acervo de teses, livros e artigos sobre alfabetização) quanto o processo de ensino para os inscritos. “Nós falamos de classes de alfabetização e letramento porque achamos que só alfabetização fecha um pouco. A alfabetização seria o sujeito que lê apenas juntando letras, lê pequenos trechos, mas não tem um aprofundamento. O letramento é a função social da leitura e da escrita, então te abre uma possibilidade”, explica Ana sobre a metodologia adotada.

Outro aspecto ressaltado pela entrevistada é a via de mão dupla suscitada por tal esquema de educação: por um lado, atende-se a idosos interessados na aprendizagem, pois, na maioria das vezes, não tiveram boas oportunidades de estudos quando jovens; por outro, incentiva a formação docente, uma vez que os professores/bolsistas do Proalfa são estudantes de Letras, Matemática e Pedagogia da Uerj comprometidos a agregar mais experiências à vida acadêmica e a se desenvolver profissionalmente. Para Ana Helena, “há uma simultaneidade; do mesmo jeito que nós estamos ensinando os nossos alunos da comunidade, que vêm de diversas partes do Rio de Janeiro, nós estamos complementando os estudos feitos dentro da universidade”.

As classes têm professores regentes, fixos, e as chamadas “oficineiras”, responsáveis por promover e incentivar atividades acerca dos temas estudados. Ao final do semestre, em um evento denominado “culminância”, as composições dos alunos são apresentadas e avaliadas. Não há critério de nota, ninguém repete o ano e cada progresso é valorizado.

Igor Gonçalves, estudante de Letras (Português e Literatura) do 7º período e professor do Proalfa há três anos, fala que o fator atrativo foi a preocupação com a leitura: “Essa leitura modifica a vida dos alunos, esses alunos que esperaram tanto tempo pra hoje estar lendo Graciliano, a gente trabalhou Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade… Coisas que eles nunca pensaram que um dia estudariam”. Ele também ressalta a importância do Proalfa na sua formação de educador: “Isso tem me mostrado o desafio lá fora. Porque aqui estou lidando com idosos, mas, lá fora, como que vai ser enquanto professor de Língua Portuguesa da escola pública, todo esse desafio? E mostrar que o professor de Português também tem que ter essa preocupação com a alfabetização primeiro, porque a realidade é bem complicada”.

Diante da greve enfrentada por todos os setores da Uerj na primeira metade de 2016, o andamento do Proalfa vem passando por sérias dificuldades. Para não interromper totalmente as atividades durante a paralisação, as aulas foram reduzidas de três para uma na semana. O horário já está normatizado, embora o período, que deveria se estender por cerca de três meses, agora durará apenas um. Por conta disso, dos 60 a 80 alunos inscritos, apenas uma pequena parcela retornou às aulas.

O ingresso no Proalfa se dá através de uma pequena avaliação – um ditado, para ver o nível de escrita – e um questionário. Embora o programa seja voltado para a terceira idade, Ana Helena explica que não é fechado para adultos que possam se interessar, pois é importante a inclusão e seus resultados. “Tenho uma aluna que está escrevendo um livro dela, da vida dela no Proalfa. Ela se integrou tanto aqui, foi uma coisa tão intensa, que ela fez 70 anos e disse ‘eu tenho que escrever’”, exemplifica, com um sorriso de satisfação no rosto.

Maiores informações no site www.proalfa.uerj.br.

Camila Nogaroli

Um comentário

  1. Como foi bonita a sua abordagem
    ao citar a nossa querida Proalfa.
    Estamos aqui para fazer o melhor.
    Parabéns a você e todos que compõem
    a direção UNAT – PROALFA.

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